sábado, 28 de novembro de 2015

Por muito pouco não se tornou muito nada

Se certificou de que todos estavam dormindo
Fechou a porta lentamente
Trancou-a
Sentou no chão frio do banheiro
Tirou o tênis, e debaixo da meia um pacotinho com sua lâmina enrolada
Começou com pequenas tiras na coxa
Aquela sensação estava diferente
Antes ela sentia prazer
Agora dor
Estranho
Começou a ir mais fundo
E se abrir?
Mais fundo
Olha o sangue respingando no chão
Levantou e ligou o chuveiro
Voltou a sentar
Mais fundo
Riu
Mais fundo
Isso já está doentio
Onde mais consegue aprofundar
E então começou a perceber que não conseguia mais medir o quão fundo havia ido
E se pegar uma veia?
Mirou nas lembranças da aula de anatomia
Tinha uma artéria importante por aqui não?
Lembrou da promessa de não morrer pro amigo
Lembrou da promessa de não fazer mais isso pela amiga
Lembrou deles a chamando de egoísta
Mas ela era mesmo
E pela primeira vez começou a cortar mais fundo
E pela primeira vez se cortou por culpa
Não podia parar
Não podia
- Abre a porta
- Estou ocupada
E agora? Como se limpar e limpar tudo a tempo?
- Eu estou sentindo o cheiro de sangue, abre essa porta agora
- Estou só tomando banho
Estava fraca...
Talvez tenha ido fundo demais
Quando acordou
Alguém estava fazendo curativos e costurando ela
Aquela seria só mais uma cicatriz entre milhares
Ela voltaria a torturante rotina
De ser só mais uma entre milhares...
Por muito pouco não se tornou muito nada
Por muito pouco
Quase tocou a liberdade

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E se a singelez da margarida for melhor que a sedução da rosa? (Frase Rodrigo; Desenho Maria Luiza

E se a singelez da margarida for melhor que a sedução da rosa? (Frase Rodrigo; Desenho Maria Luiza
Clique na imagem e conheça meu diário de sonhos