Um lado do fone
Um maço de cigarro barato
Uma falsa promessa de um cigarro só
Um corte de bebida
Uma folha bonita
Uma última chama no Bic
Uma única música salva no celular
Um tiro
Uma
Eu
Só
Eu...
Um
Acende um cigarro após o outro
Se ele apagar não tem como acender o próximo
Um pós outro
Um dia por vez
Digo
Trago
Nada
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
20h37
20h50
Nunca supera nada
Nunca boa realmente em nada
Sempre fragmentos
Nunca concluía nada
Mentia tanto que não sabia mais o que era verdade
O que era
Não tinha mais lágrima
Mas logo o ciclo de chorar retornaria
Que falta você me faz quarto
Que falta me faz estar sozinha
Só você
Meu teclado
Violão
Gravador velho
E eu
Ah claro
As vozes também
Não pequena Maria Luísa, essa angústia não vai passar
Vai te acompanhar pro resto da vida
Nada vai te preencher minha pequena
Que convenhamos nunca foi pequena assim...
Esse é o preço que se paga por carregar o mundo em ti
terça-feira, 23 de outubro de 2018
O vento começava a trazer as pesadas nuvens para o céu acima dela.
Um leve sorriso delineou seus lábios, ela poderia se levantar e ir antes da chuva vir, ou esperar.
Não preciso dizer sua escolha
Quando viu o primeiro clarão percebeu que era o momento exato de seguir seu caminho.
Flertou com o céu, esperando que ele sumcubice aos seus gracejos.
"Só uma dança, é tudo o que preciso"
Ela quase suplicava com seus olhos marejados contornados por fundas olheiras, desânimo e desgostos...
As primeiras gotas beijaram sua pele, gélidas. As gotas aqueciam seu coração com seus lábios estonteantemente frios.
"É um bom romance", pensou, enquanto seguia o caminho sentindo o vento forte acariciar sua nuca com seus longos dedos nus e mortos.
Tentaria escrever sobre aquela poesia mais tarde, mas sabia que seria um esforço em vão. Nada superaria a beleza desse acasalamento
A tempestade esculpia nela feições que não via no espelho a semanas, e em semanas, pela primeira vez, as lágrimas eram de paz.
E mesmo que por instantes, ela não estava só.
Solidão, o sentimento mais cruel e devastador da espécie humana...
Apesar que os animais simplesmente não sabem lidar também, talvez seja o vínculo mais afetivo que temos com eles.
Vejo as pessoas irem
Vejo-me me afastar
E cada vez mais não tenho a força mínima pra manter os outros aqui
Tudo o que eu faço soa como mentira
Todo ar que respiro é espinho
Toda água que bebo, amarga
Toda ajuda que berro, espasmos que espantam ainda mais os outros pra longe...
Ao meu redor vejo valas que eu mesma cavei, mesmo sem nem ver minhas mãos se sujarem.
Solidão, a materialização mais real do pós morte
A agonia de estar vivo e se esquecer completamente como se vive.
terça-feira, 16 de outubro de 2018
quinta-feira, 11 de outubro de 2018
quarta-feira, 3 de outubro de 2018
O dia estava chuvoso, eu andava sem rumo e nem me dei conta que havia andado tanto...
Quando dei por mim estava olhando o rio correndo através da ponte velha.
Me lembrei da primeira vez que estive lá, foi com meu pai, eu tinha uns oito anos e ele me levou pra jogar fora uma espingarda velha que tinha em casa do meu avô. Eles me pegaram brincando com ela e decidiram dar fim.
Eu havia perguntado se era possível morrer pulando dali e ele me disse que não, porque a altura era pouca pra dar impacto (até hoje eu me pergunto se ele não disse aquilo só pra eu nunca pular ou se era verdade mesmo), depois eu vi a espingarda afundar e disse "se amarrar algo pesado no pé então não precisa de impacto né?" E ele disse que a água era muito rasa pra um ser humano afundar, a cabeça ficaria pra fora.
Até hoje eu nunca vi notícia sobre suicídio ali
Talvez seja verdade...
Eu estava parada analisando a altura do salto
Fiquei um bom tempo ali
E então ouvi um carro parando
Alguém veio andando e eu reconheci o som daqueles passos
- Você estava me seguindo?
- Não, juro que não, eu passei aqui por um acaso e te vi e lembrei que sempre que passávamos aqui você perguntava se era possível morrer e você estava com um olhar perdido
- Não me toca
- Eu só fiquei...
- Não quero você aqui, saí.
- Eu vou, mas não faz isso
Então eu peguei meu caderno e fui embora
terça-feira, 2 de outubro de 2018
Aos poucos me afasto
Não sou boa em nada
Eu só sei fazer cartas
Poemas
Ou entregar uma flor
E mais nada
Não sou criativa
Sou a rotina monótona sempre igual
Sempre
E tudo isso... é meu melhor
E não é o suficiente pra te trazer de volta
Estou exausta
A anos estou
Sinto isso desde que nasci
E sei que amanhã ou depois você não vai mais estar aqui
E aí
Eu não vou precisar mais estar também.